terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O desafio do perdão

Mateus 18.21-22

“Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.”

Nossa vida familiar, em sociedade ou na comunidade da fé se estrutura a partir do elemento relacional. A teia das relações humanas, como bem sabemos, é o ambiente onde não somente nasce o amor, o afeto, a amizade ou o companheirismo; esse lugar também é o espaço onde surgem as incompatibilidades, as desavenças, as iras e as discórdias.
Em um estilo de vida que não é dirigido pela Palavra de Deus, o trato com estas questões tende a ser menos rigoroso ou até inexistente. Nessa perspectiva, se tenho um problema com alguém, posso, quem sabe, permanecer assim durante longos anos e nunca buscar o acerto. De outro lado, quando nos deparamos com o evangelho, percebemos que Jesus colocou o perdão como uma das ênfases preferidas dos seus ensinamentos. O perdão e o evangelho acabam tantas vezes se fundindo num discurso único, que aponta para o plano de Deus para nós e para a melhor forma de estabelecermos relacionamentos.
Creio que o perdão é um dos temas mais desafiadores para se viver na fé cristã. Por consegüinte, hoje iremos buscar uma fundamentação bíblica diante da vital importância de exercer o perdão.

1) PERDOAR É UM EXERCÍCIO RELACIONAL E ESPIRITUAL
Cornelia ten Boom, conhecida como Corrie ten Boom (1892-1983), foi uma mulher cristã holandesa que ajudou a salvar a vida de muitos judeus ao escondê-los dos nazistas durante a II Guerra Mundial. Em 1947, após o grande conflito, num momento em que testemunhava na Alemanha, ela se encontrou com um dos mais cruéis guardas do campo de concentração onde esteve presa. Ela estava relutante em perdoá-lo, mas orou para que conseguisse fazê-lo. Corrie escreveu: "Por um longo momento, nós tocamos nossas mãos, o ex-guarda e a ex-prisioneira. Eu jamais havia conhecido o amor de Deus tão intensamente quanto naquela hora.”
Lucas 17.3-4: “Acautelai-vos (isto é, “ficar de sobreaviso”, “precaver-se”). Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe.”

2) PERDOAR É NÃO ESPERAR SER COMPREENDIDO, MAS DECIDIR COMPREENDER O OUTRO
Colossenses 3.13: “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”
Por meio do sacrifício do seu Filho (o Deus que se fez homem), o Senhor decidiu avançar pela via da compreensão das debilidades humanas herdadas pela Queda. Ele veio até nós objetivando tirar-nos do lamaçal da morte e da condenação. Ele sabe quem somos. Ele – primeiro –, não esperou que você o compreendesse, mas decidiu tratar do nosso pecado dando-nos aquele que se fez pecado por nós.
Perdoar é a iniciativa de agir sem esperar ser compreendido, mas compreendendo o outro. Quão grandioso desafio!

3) PERDOAR É O REQUISITO QUE ABRE A PORTA PARA A GRAÇA ENTRAR
Mateus 6.14-15: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.”
Tantas vezes as pessoas não conseguem experimentar do fluxo da graça e do perdão de Deus em suas vidas porque não estão observando o imperativo bíblico. A prática do perdão, com efeito, abre a porta das ações renovadoras do Senhor naquele que se dispõe a abraçar o mandato de perdoar.

4) PERDOAR É REPRODUZIR A GRAÇA DE DEUS NA VIDA DO OUTRO
Diz o Senhor na oração do Pai nosso: “...e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mateus 6.12).
No ano de 1974 Chris Carrier voltava da escola, na Flórida, EUA, quando um homem que dizia ser amigo do seu pai o convidou para entrar no carro. Levando-o a uma região pantanosa, o atacou com um furador de gelo. Chris ficou inconsciente 6 dias, até que recobrou a consciência, foi achado e levado ao hospital. O homem deixou Chris cego de um olho. Anos se passaram e Chris se tornou um ministro da Palavra de Deus. Em 1996 alguém liga e diz que o seu algoz, já velho, estava moribundo num hospital. Chris visita o homem, anuncia Cristo para ele e declara o perdão. Assim, prestes a morrer, o ex-agressor diz: “O que eu fiz e me arrependo, não é algo que irá mais me perseguir.”

5) PERDOAR É UM PASSO ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIO PARA ALCANÇAR A LIBERTAÇÃO
Mateus 18.34-35: “E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.”
Esta parábola contada por Jesus aponta para os efeitos devastadores da falta de perdão. Certo homem foi perdoado de uma dívida estrondosamente elevada. Depois de ter sido perdoado, ele encontra um indivíduo que lhe devia pouca soma de dinheiro. Agindo de maneira impiedosa, tenta então sufocar aquele que lhe devia, exigindo a reposição. Quando o soberano que lhe perdoou a dívida soube do fato, afirmou que este homem seria entregue aos verdugos (torturador, algoz, carrasco). O caso ilustra a realidade de quem recebeu o perdão, mas que não se tornou um despenseiro do perdão.
Saibamos que aquele que não exerce o perdão será flagelado pela vida, pela opressão e pela colheita amarga da indisposição em perdoar. Os verdugos o perseguirão implacavelmente.

6) PERDOAR NÃO É ESQUECER. PERDOAR É NÃO SOFRER DIANTE DAS LEMBRANÇAS DO PASSADO
Você precisa entender que perdoar não é apagar a memória; perdoar é a alcançar a cura das memórias.
Depois de ter sido vendido como escravo pelos irmãos e ter sido preso no Egito, José se tornou o segundo depois do Faraó. Anos depois de terem agido impiedosamente com José, seus irmãos o encontram no Egito pedindo ajuda pela fome que assolava a terra. José disse: “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida” (Gênesis 50.20).
Note que o mal não foi esquecido, contudo José não destilou amargura naqueles que o feriram. Perdoar, como vemos, não é apagar os fatos da memória. Perdoar é lembrar sem sentir dor.

Conclusão:
A Sagrada Escritura aponta para o caminho da restauração de relacionamentos a partir do referencial de Deus, que veio a nosso encontro oferecendo perdão por intermédio do seu Filho.
Quando Jesus disse para Pedro perdoar até setenta vezes sete, ele estava afirmando que o perdão deve ser ilimitado. Com isso é possível dizer que viver o perdão é um estilo de vida. Um estilo de vida não mais orientado por nossos impulsos, mas pela vontade revelada de Deus.